sábado, 4 de fevereiro de 2012

O mistério do Governo que se encurrala voluntariamente

O núcleo duro do Governo, e quem o aconselha, ou sabe alguma coisa muito importante, e até bombástica, sobre a actual e futura situação económico-financeira portuguesa e internacional, ou então não se percebe a razão de ser de uma teimosia na qual o primeiro-ministro, Miguel Relvas e Vítor Gaspar persistem com maior veemência cada dia que passa. Esta teimosia manifesta-se em sucessivas afirmações segundo as quais Portugal não pedirá (porque não necessitará) uma ajuda financeira suplementar para o pós-2013 (senão mesmo já para 2012 ou 2013).
Como toda a gente já percebeu, de acordo com a informação que é pública, Portugal só por milagre poderá cumprir o programa negociado na Primavera de 2011 com a Comissão Europeia, o FMI e o BCE, sem arrasar grande parte do país e/ou o regime político no seu todo. Visto isto, será interessante perceber a que argumentos recorrerá Passos Coelho para manter um módico de credibilidade política e pessoal no dia em que não puder fazer outra coisa que não seja informar os portugueses de que a negociação de um novo "pacote" de ajuda financeira será indispensável, para não dizer inevitável e vital. É que sem credibilidade política e pessoal jamais será possível a Passos Coelho e ao Governo garantirem um módico de estabilidade política e social, além de canais de comunicação abertos com o PS e a Presidência da República, para renegociar o actual acordo com a troika e/ou preparar a negociação de um outro.
Em política, como na vida, muito deve ser feito de forma a preservar o maior número possível de opções, evitando situações em que se fique encurralado. Conviria, por isso, que quando fecha todas as portas, o Governo deixasse abertas (ou entreabertas) algumas janelas (de preferência num rés-do-chão baixo). Porém, tudo indica que não é esse o caso. O Governo está encurralar-se voluntariamente condenando-se a si e ao país, seja por estupidez, teimosia ou cegueira ideológica (basicamente tudo sinónimos). É verdade que não chorarei o previsível destino do Governo no momento da sua condenação como consequência da sua estupidez, teimosia e cegueira ideológica. Já quanto ao país não poderei dizer o mesmo.

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