segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

Crie-se uma política de emigração

 Depois de, na entrevista de ontem ao Correio da Manhã, o primeiro-ministro Passos Coelho ter defendido que os professores portugueses no desemprego poderão encontrar na emigração para países lusófonos uma solução para a sua situação de desemprego em que se encontram ou se irão brevemente encontrar (isto depois de um secretário de Estado ter também sugerido que os "jovens" deveriam ver na emigração a solução para o facto da economia portuguesa estar a destruir muito mais empregos do que aqueles que cria), parece óbvio que o Governo deve ter uma política de emigração. Precisa por isso de a elaborar, apresentar e discutir. Depois, eventualmente, se aprovada, publicá-la-á em Diário da República.
Sugiro, porém, que a política de emigração não tenha apenas a colaboração dos Ministérios das Finanças, da Economia e da Solidariedade e Segurança Social. O Ministério dos Negócios Estrangeiros deve ter também uma palavra a dizer, porque a celebração de acordos, tratados e convenções com terceiros países, ou blocos de países, poderá ajudar o Governo a fazer boa figura e os portugueses emigrantes a penarem menos que os seus antepassados. É claro que Passos Coelho deve acompanhar de perto todo este trabalho, não só por a emigração ser uma aposta política sua, mas porque um trabalho bem feito trará dividendos políticos e um eventual fracasso grandes dissabores.
Por fim, convém recordar que a aposta do Governo português na emigração não deve ter, nem vai ter, apenas como objectivo reduzir o desemprego e os indíces de insatisfação e agitação social. Irá também ajudar a corrigir os desequilíbrios na balança de transacções correntes a partir do momento em que os novos emigrantes portugueses começarem a enviar para Portugal parte dos rendimentos auferidos no estrangeiro. Portugal, enquanto economia e sociedade, regressará assim à situação de frágil equilíbrio económico, social e político produzido pela emigração na segunda metade no século XIX e início do século XX, na década de 1920 e nas décadas de 1950 a 1980, e que tanto alimentaram os discursos dos políticos portugueses, já para não falar a obra de vários romancistas, poetas, pintores, dramaturgos ou cineastas (emigrados ou não).

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