segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

Demagogia e ignorância: mistura explosiva

As declarações de hoje de Pedro Passos Coelho a propósito (outra vez) da não tolerância de ponto na Terça-feira de Carnaval, demonstram claramente que, tal como o seu antecessor, o primeiro-ministro é um demagogo e um ignorante (também é um serventuário de muitos e variados interesses económicos, mas isso agora não interessa). Na verdade, estas qualidades, a prazo e se combinadas, são positivas. Um demagogo inteligente e bem informado tem maiores possibilidades de se manter no poder durante mais tempo e prejudicar muito mais os seus concidadãos... Mas vamos ao que interessa.
Passos Coelho, instruído certamente pelos taxistas e outros portugueses que juram que Portugal só vai lá com um "Salazar em cada esquina", chegou à conclusão de que é trabalhando mais, muito mais, que a economia portuguesa há-de sair do atoleiro onde se meteu (não se interroga, por exemplo, se aquilo que se produz tem mercado e é bem remunerado por este). Coelho está convencido e quer convencer-nos de que sem a ponte no Carnaval e com menos quatro feriados nacionais por ano, a economia portuguesa reerguer-se-á. Mas para além de tudo isto, o chefe do Governo parece crer ainda que só agora, e após a sua chegada à presidência do Conselho de Ministros, é que os portugueses vão começar a trabalhar e a saber o que é trabalhar. De tudo isto decorre que, para Passos Coelho, co-fundador de uma nova escola do pensamento económico, caso os portugueses passassem a ter apenas uns 10 dias úteis de férias por ano, e descansassem apenas dia e meio por semana, a que se juntaria o fim de todos os feriados nacionais e "pontes", com excepção do Natal e Ano Novo (vá lá), a economia portuguesa pouco tardaria a equiparar-se à dinamarquesa, sueca ou norueguesa... Ora quer-me parecer que não seria bem assim. Por exemplo, senhor primeiro-ministro, há 50 ou há 100 anos, os portugueses trabalhavam muito mais do que trabalham hoje e produziam muito menos do que produzem actualmente.
Mas para além de tudo isto, e como se não bastasse, Coelho ainda balbuciou uns disparates sobre o prejuízo que a economia portuguesa suporta cada vez que há um feriado ou uma ponte (como se o descanso não comportasse ganhos), e jurou que morreu de vergonha por os representantes da "troika" estarem a trabalhar em Lisboa entre 10 e 13 de Junho de 2011 enquanto os portugueses estariam a gozar uma "ponte" de quatro dias, sobretudo estando o país à beira da banca rota. Ora o que Passos Coelho disse foi que, no fundo, a quase banca rota foi consequência da preguiça dos portugueses. Mas por outro lado não disse, porque não sabe ou não quer saber, que um número elevadíssimo de portugueses trabalharam durante esses quatro dias (e não me refiro apenas aqueles não gozaram o Santo António), sendo que muito só fizeram porque feriado e ponte, da mesma forma que não explicou porque não decidiu afinal o seu Governo liquidar o feriado do 10 de Junho, em vez do 5 de Outubro ou do 1 de Dezembro, uma vez que a proximidade dos dias 10 e 13 de Junho se presta, ano após ano, à construção de "enormes pontes", pelo menos na cidade com maior peso na economia do país.
Em resumo, ter um primeiro-ministro deste calibre é uma miséria, para não dizer uma desgraça. Mas o que é mais desgraçado ainda é sabermos que nas eleições legislativas de 2011 a escolha era (foi) entre a fome e a peste, e que esta escolha estará diante dos eleitores portugueses até ao fim dos tempos.

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