terça-feira, 22 de novembro de 2011

A verdadeira "guerra de civilizações"


Para garantir a solvabilidade da banca privada e pública portuguesa, o estado terá que nela despejar, e até já despejou, directa ou indirectamente, quantidades industriais de "capital".* Se tal coisa está a acontecer (BPN) e ainda terá que acontecer (MP, BPI, Banif ou BCP), é porque, genericamente, a banca privada portuguesa tem sido gerida como a CP, a Refer, a Carris ou o Metro de Lisboa.
Vistas estas circunstâncias, só alguém toldado por grande cegueira ideológica, doença muito grave nas circunstâncias do actual debate político e na situação económica e financeira portuguesa e europeia, pode andar a dizer na Assembleia da República que a experiência de intervenção do Estado português na banca é "desastrosa", como se a CGD fosse muito diferente para pior da generalidade da banca privada portuguesa. De facto, a incapacidade que as pessoas têm para perceberem que a qualidade da gestão do que quer que seja, não depende de ser pública ou privada, é qualquer coisa aflitiva (tomara, por exemplo, que muitas empresas de transporte privadas portuguesas fossem geridas com a eficiência de muitas empresas públicas de transporte francesas ou alemãs).
Por outro lado, a insistência nesta atitude recorda-me a célebre máxima designada por "guerra das civilizações" que Huntington popularizou, apesar de ter sido deficientemente assimilada. E porquê? Porque andamos há décadas a fazer uma longa travessia no decurso da qual uma parte do mundo que julga que pensa, se coloca do lado bom da trincheira da civilização para quem o que é público é uma autêntica Verdade Revelada, enquanto a outra, no seu quadrado, jura a pés juntos que não há nada que chegue aos calcanhares da civilização para a qual tudo aquilo que é privado é uma espécie de Divino Espírito Santo.
Como é óbvio, os custos desta guerra ideológica, em que cada um dos bandos procura a rendição incondicional do outro, são incalculáveis, pelo que poucos serão aqueles que os não terão já sentido na carne.

* Eu sei que, à partida e em teoria, a banca privada pagará ao contribuinte, e com juros, a ajuda financeira recebida.

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