quarta-feira, 16 de novembro de 2011

O estado da questão


A profunda crise económica e financeira nascida em 2008 nos EUA, que depois se estendeu à Europa do euro produzindo sucessivas crises de dívida soberana, exigiam e exigem para a sua solução um módico de moderação e de bom senso político e técnico, sem radicalismos nem trincheiras, independentemente de haver espaço para que os políticos ouçam e considerem o leque de soluções oferecidas e eventualmente exequíveis.
No entanto, não é nada disso que se tem passado. Nos EUA parece que se crê que a solução está na aplicação de sucessivos pacotes de "estímulo" económico, injectando na economia quantidades inimagináveis de dólares sob o olhar complacente da Administração Obama e da Reserva Federal. Os resultados têm sido modestos tanto quanto ao crescimento económico e do emprego, mas também à resolução do problema do défice por via do aumento da receita fiscal.
Na Europa do euro, pelo contrário, insiste-se na aplicação de pacotes de ajustamento cujo objectivo é o equilíbrio das finanças públicas, quer por via da redução de défices, quer por via da diminuição drástica da dívida pública. Porque na Europa manda uma Alemanha e uma alemã traumatizadas com a experiência Weimariana da hiperinflação que terá criado Hitler e o nazismo, e com o fracasso da experiência socialista na República Democrática Alemã, a política monetária é muito conservadora. Isto faz com que o Banco Central Europeu tenha recursos muito limitados, sobretudo se comparados com os da Reserva Federal dos EUA, para influenciar o crescimento económico na zona monetária que tutela. Consequência desta estratégia e desta realidade ditadas pelo Governo alemão e pelos tratados que dão forma à União Monetária (tratados aceites e assinados por todos os restantes estados membros da zona euro), além de muito apoiada por importantes sectores da opinião pública e da classe política europeias nostálgicas de Milton Friedman, é uma recessão profunda nos países em que os ajustamentos estão a ser feitos de forma extremada e que se está a alastrar à restante zona monetária, sem que o problema da dívida soberana dê sinais de se resolver. Portanto, e para já, o caminho traçado e andado nada mais tem feito do que conduzir ao fracasso parcial ou total dos programas de ajustamento em países individualmente considerados, mas também, e sobretudo, a uma profunda erosão da legitimidade e representatividade das instituições políticas existentes, com resultados finais para já imprevistos e imprevisíveis.
Em resumo: problemas graves e complexos exigem soluções que sejam técnica e, sobretudo, politicamente ágeis e equilibradas. Como tudo isso tem faltado nos dois lados do Atlântico, o futuro é sombrio, muito sombrio, embora este futuro, ao que me parece, tenha já, parcialmente, existido num passado relativamente remoto.

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