sábado, 26 de novembro de 2011

Há sempre uma primeira vez para tudo... ou quase.


Embirro com Mário Soares desde pequenino. Ou seja, desde que, com 8 anos, me lembro de o ter visto, num ecrã de televisão, a "preto e branco", chegar a Lisboa num comboio proveniente de Paris. No pós-25 de Abril consegui admirar Álvaro Cunhal e Sá Carneiro, espantar-me com, vamos lá, as infantilidades de Vasco Gonçalves, Otelo, Galvão de Melo ou Spínola, e cair de sono com Costa Gomes, Melo Antunes, Ramalho Eanes ou Salgado Zenha. Por esta altura também já tinha saudades das "conversas em família" de Marcello Caetano que uma das minhas avós, admiradora do seu conterrâneo Franco, escutava sempre com enorme atenção até ao momento em que adormecia sentada sempre na mesma cadeira da sala.
Mas com Mário Soares sempre embirrei. Nunca teve o meu voto, coisa que, imagino, o deve aborrecer imenso agora que publicamente o confesso.
E no entanto, a profunda boçalidade que, desde Junho passado, tem atacado parte da direita portuguesa que não é minha, boçalidade essa, diga-se, que muitos trabalhos me tem custado, pobre de mim, faz-me pela primeira vez na vida vir em defesa do chamado e auto-proclamado "pai" da democracia portuguesa.
A direita a que me refiro tem, nos últimos dias, atacado convictamente Mário Soares porque este terá apoiado a greve geral do dia 24 de Novembro último e porque, ao que parece, supremo pecado, tem umas críticas a fazer às políticas de "ajustamento" e de "austeridade" que o actual Governo tem executado e que garante irá executar em 2012 e 2013, embora nem imagine, creio, os resultados que tais políticas estão e irão produzir.
Ora qual é o grande argumento que a direita a que me refiro utiliza para apoucar as posições de Mário Soares? Essencialmente, o facto de entre 1983 e 1985, quando Soares foi primeiro-ministro pela última vez, o seu Governo ter elaborado e executado um duro programa de austeridade imposto pelo FMI por causa da situação calamitosa em que se encontravam a economia e as finanças públicas depois de vários anos de governação desastrosa da AD de Sá Carneiro e de Pinto Balsemão. Ou seja, como Mário Soares no Governo teria executado, ou terá executado, políticas em boa medida semelhantes às que Pedro Passos Coelho estará a executar, Soares não pode e não deve, em nome da coerência, criticar as políticas do actual Governo.
Em defesa das posições de Mário Soares pode dizer-se muita coisa (da mesma forma que elas poderão ser atacadas ou criticadas, embora eu fizesse votos para que os ataques e as críticas fossem inteligentes, consistentes...). Porém, parece-me que o principal argumento a favor de Soares e das suas posições é que Portugal, a "Europa" e o Mundo são hoje radicalmente diferentes daquilo que eram há 28 anos. No entanto, o mais curioso nisto tudo é ver tanto apoiante cego, surdo e mudo do Governo criticar a falta de coerência de Mário Soares quase 30 anos depois, quando apoia um primeiro-ministro que em 2009 defendia posições totalmente diferentes daquelas que defende hoje no domínio da despesa pública, a começar pelo apoio dado à construção do TGV Lisboa-Madrid e a acabar na aliança tácita que estabeleceu com Sócrates para que o PS derrotasse, nas eleições legislativas, a líder do partido que é o do actual primeiro-ministro...
É preciso dizer mais alguma coisa?

1 comentário:

  1. "aliança tácita que estabeleceu com Sócrates para que o PS derrotasse, nas eleições legislativas, a líder do partido"....????

    Veredicto: interne-se

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