terça-feira, 5 de junho de 2012

Um Comentário


O problema não está em saber, e nunca se saberá, se o ensino "hoje" é "melhor" ou "pior" do que há 40 ou 50 anos. Aqui em Portugal, na China, nos EUA ou na Suécia. Aliás, dificilmente "sistemas" (e aquilo que eles comportam) separados por décadas podem ser comparados porque, entretanto, tudo mudou radicalmente. Isto não significa que sistemas de ensino portugueses (os de hoje e os de ontem) não devam ser analisados exaustivamente, O problema está em saber se o sistema de ensino que tem vindo a ser construído e "desconstruído" em Portugal desde finais da década de 1970 é, de facto, "bom" e serve as expectativas e os interesses, nos mais variados "níveis" e "dimensões", dos alunos, dos pais, dos professores, da "burocracia" do ministério, das comunidades locais, da comunidade nacional, etc., etc.. E aquilo que nós sabemos é que (globalmente) não serve. Se servisse não estávamos onde estamos ou, sequer, nos preocupávamos em avaliá-lo e em questioná-lo nos termos em que sistematicamente o fazemos.

5 comentários:

  1. Aquela é uma foto da velha D. João de Castro (que agora, desde Sócrates, é qualquer coisa em forma de não sei quê)?...

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    1. No meu tempo o Liceu Nacional de D. João de Castro, antes de "liceu" e "nacional" se tornarem malditos. Cinco anos lá passados. E lá passei há não muito tempo: não entrei; uma confusão arquitectónica e uma interminável denominação, inchada de "eduquês", de "competências" e de "saberes".

      Com o resultado conhecido.

      Costa

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  2. Exactamente! E que frequentei entre o 10.º e o 12.º ano. Sei que sofreu umas obras valentes. Não sei como ficou nem para o que serve.

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  3. Julgo que a questão do eduquês que o sr. Crato colocou está mal colocada. Para ele o problema do eduquês é ser muito palavroso mas é evidente que toda a teoria no campo social é palavrosa, quer dizer, usa muitas palavras. Mas muitas palavras já tinha usado Platão, Aristóteles, Aquino, etc; enfim, a lista de palavrosos nas disciplinas teóricas é imensa.

    O problema do eduquês, a meu ver, reside no desiquilíbrio, no ministério da educação - e para usar terminologia de Lénin - entre intelectuais e operários, quero dizer com isto que o problema está na alienação do ministério da educação em relação a quem trabalha no terreno.

    E não bastam proclamações de intelectuais sobre esta matéria, é preciso, a meu ver, efectivamente rodear os decisores do ministério de "operários", quer dizer, de gente cuja exeriência concreta permite introduzir algum equilíbrio na passagem da teoria à prática.

    Então, apesar de Crato se insurgir contra o eduquês, ele insurge-se contra o que não é realmente o eduquês mas sobre um simulacro; o verdadeiro eduquês na verdade mantém-se e pode ver-se claramente na iniciativa para a autonomia das escolas; quer dizer, de um lado o ministro diz que é preciso mais autonomia para a escola e do outro define do alto do seu gabinete o que é a autonomia de que as escolas precisam, enfim, é uma autonomia que é definida à priori pelo ministério e que, portanto, é ainda mais preversa, porque aparece como autonomia das escolas quando, na verdade, é mais um ditado concreto e minucioso do ministério da educação sobre as escolas.

    O Estado, ou melhor, um governo, exerce sempre poder, mesmo no seu não-exercicio e muitas vezes especialmente no seu não-exercício, porque não exercer poder é um exercício que só faz sentido a quem exerce o poder e é, portanto, um exercício de poder. É uma ilusão pensar que um governo, especialmente com uma maioria absoluta, pode em alguma circusntância não exercer poder e que o sr. Crato queira convencer que está a diminuir o poder do governo, por meio do Estado, sobra a educação só mostra que ou não sabe o que faz ou pensa que somos todos papalvos.

    Em resumo, a cruzada contra o eduquês do ministro é simplesmente uma cruzada ideológica e o eduquês de que ele fala é apenas uma cortina de fundo. O verdadeiro eduquês continua vivo e Crato é mais recente, e porventura mais hipócrita por se dizer contra o eduquês, dos seus propagadores.

    João.

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    1. Podemos ainda perguntar porque razão Crato diz que vai dar autonomia se ele vai dar autonomia? quer dizer, esta duplicação da autonomia é na verdade a retomada de volta daquilo que se está a dar, ou seja, é transformar a autonomia no discurso sobre a autonomia de tal modo que a autonomia é essencialmente a do ministro impor o seu discurso sobre o sistema. Se ele quisesse mesmo dar autonomia, dava, e mais nada.

      Se eu lhe ofereço um presente e faço constantes discursos sobre o presente que lhe estou a oferecer o que eu lhe estou a oferecer é um meio de discursar sobre o meu oferecimento do presente...e talvez na verdade você preferisse que eu nunca lhe tivesse dado o presente já que dessa forma não teria de andar a levar comigo.

      Parece-me que a autonomia que o Crato está a dar é deste género, é um conduto para andar metido na escolas até ao tutano, enfim, para fazer, sem parecer, o contrário do que diz.

      João.

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