Enquanto
a frase "não há alternativa" se aplicava apenas à austeridade em
geral, a frase era sensata e suscitava uma aquiescência triste, mas cordata.
Não era um irritante, mas uma inevitabilidade, que pessoas racionais sabiam não
poder ser contornada. "Não havia alternativa."
Depois a frase começou a azedar. Primeiro, havia quem dissesse que "não havia alternativa" com ar feliz, como quem diz, portaram-se mal, "viveram acima das vossas posses" e por isso precisam de um tratamento drástico de "austeridade". Não o Estado, não o Governo, não os políticos, não os bancos, não as pessoas imprevidentes e gastadoras, mas "todos". Ora quando chegou ao "todos", a frase tornava-se injusta, e quando se tornou habitual como um instrumento discursivo na política, começou e bem a irritar todos aqueles que sabiam não fazer parte desses "todos".
Depois a frase começou a azedar. Primeiro, havia quem dissesse que "não havia alternativa" com ar feliz, como quem diz, portaram-se mal, "viveram acima das vossas posses" e por isso precisam de um tratamento drástico de "austeridade". Não o Estado, não o Governo, não os políticos, não os bancos, não as pessoas imprevidentes e gastadoras, mas "todos". Ora quando chegou ao "todos", a frase tornava-se injusta, e quando se tornou habitual como um instrumento discursivo na política, começou e bem a irritar todos aqueles que sabiam não fazer parte desses "todos".
O
moralismo, aliado ao paternalismo, começou a fazer estragos na
"inevitabilidade". Porque uma coisa era ter de passar mal uns tempos
para consertar um país, que fora muito estragado pelas governações mais
recentes, outra é ter de ouvir uma reprimenda moral associada a medidas que são
apresentadas como se fossem punições, palmadas no aluno mal comportado que não
fez "o trabalho de casa". Diga-se de passagem que a história
adolescente do "trabalho de casa" é também um pequeno irritante.
Hoje
o "não há alternativa" é usado para blindar das críticas as políticas
do Governo, fazendo esquecer que elas são opções entre várias
"alternativas". Se não houvesse "alternativas", não
precisávamos de um governo para coisa nenhuma, bastava um comité de técnicos
para aplicar uma "ciência" incontestável. Não é assim e por isso a
questão da qualidade da governação vem ao de cima cada vez mais, com resultados
pouco brilhantes.
Por isso, estar sempre a ouvir que "não há
alternativas" à medida A ou B, faz-nos lembrar o cemitério de medidas para
as quais não havia "alternativa" e que ficaram pelo caminho. Por
exemplo: a meia hora suplementar diária. Já chega de "inevitabilidades"
que irritam.»
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