terça-feira, 31 de janeiro de 2012

Germanofilia

Apesar de no século XIX Portugal ter tido um rei alemão, D. Fernando II, marido de D. Maria II, desde 1871, ano da proclamação do II Reich e da criação da Alemanha unificada sob a batuta de Bismarck, Portugal nunca teve um Governo política e ideologicamente "germanófilo" (desenganem-se aqueles que pensam que Sidónio Pais e o Sidonismo em 1917-18, ou Salazar e o Salazarismo entre 1933 e 1945, foram "germanófilos"). Digo-o convictamente apesar, ou por causa, de praticamente ninguém no Governo, começando em Passos Coelho e em Paulo Portas e acabando em Miguel Relvas, ser incapaz de ler e perceber, por exemplo, qualquer tablóide alemão. As consequências das germanofilia governamental, partilhada, aliás, por muitos portugueses que muito, pouco ou nada têm a ver com o Governo, são evidentes para todos. Aceitação de uma perda crescente e incondicional de soberania para satisfazer os interesses de Berlim. Empobrecimento acelerado de Portugal e dos portugueses pobres e remediados.
A venda de parte da EDP à República Popular da China não chegou, portanto, para quebrar a tendência e começar a vergar o inimigo que nos sufoca. Aguardam-se novos capítulos. Aqui e "lá fora".

O Óbvio

O presidente Cavaco Silva revelou mesquinhez nas declarações que fez sobre as "pensões" ou "reformas"que recebe. Mas a histeria que gerou (em grande medida artificial e fomentado pelos media) teve como ponto alto uma "manifestação" diante do Palácio de Belém, e à qual, inexplicavelmente, ou talvez não, os media deram desmesurado destaque. Isto, tal como o subsequente total esquecimento do "caso" das pensões do presidente, demonstram bem o estado deplorável em que se encontra o país.  É tão fácil perceber como chegámos e porque chegámos onde nos encontramos.

sábado, 21 de janeiro de 2012

Crime sem castigo

 O mesmo Governo e o mesmo ministro da Economia que propõem e se regozijam com leis laborais que tornam regra horários de trabalho absolutamente desregulados, está a mais de meio caminho de extinguir ou reduzir fortemente a oferta de transportes públicos na área metropolitana de Lisboa fora das "horas de ponta". Há um nome para "isto". Canalhice...

segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

Morreu Manuel Fraga

Um dos mais importantes e enigmáticos políticos espanhóis do "segundo franquismo", da "transição" e da democracia faleceu ontem em Espanha. Não admira por isso que notícias, epitáfios e obituários sobre o assunto abundem por estes dias em toda imprensa espanhola e internacional. De tudo o que já li e ainda poderei ler sobre o assunto, destaco esta "anedota" deixada por Curri Valenzuela no abc.es: "«Estaba haciendo el amor, que como todo el mundo sabe es una cosa en que se tarda dos minutos.», dijo Fraga, antes de ser interrumpido por la protesta de una de mis colegas: «Don Manuel, en eso no se tarda dos minutos». «Mis queridas amigas: son dos minutos. Lo demás son preliminares», sentenció él. Que así era."

quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

O outro Calimero

Alexandre Soares dos Santos terá dito ao Expresso, entre outras coisas, que só está a ser duramente criticado, a propósito da já célebre mudança fiscal para a Holanda, porque a "iniciativa privada nunca foi nada de que o português gostasse". Desgraçado do homem. Um gigante que os pigmeus não reconhecem.

quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

4,346%

Portugal conseguiu vender hoje dívida pública no mercado a juros mais baixos do que na última emissão de 2011. Infelizmente, não pode haver motivo para celebrar. É que um país com crescimento económico negativo tanto não tem condições para pagar empréstimos com os 4,346% de hoje, como os 4,873% do passado mês de Dezembro.

terça-feira, 3 de janeiro de 2012

Quando o "capital" é obrigado a emigrar.

Naturalmente surda aos inúmeros pedidos de sacrifícios que exige aos portugueses, a começar pelos seus colaboradores da cadeia de supermercados "Pingo Doce" a quem paga salários muito aquém daquilo que poderia e deveria, a "família" Soares dos Santos, dona da maioria do capital da Jerónimo Martins e de tudo o que esta tem dentro, emigrou para a Holanda. Razão? Por lá paga muito menos impostos. As coisas são como são, e é por isso natural que o capital emigre. Diga-se que o trabalho, quando pode, também emigra de livre e espontânea vontade atrás de melhores salários e menos horas de labuta diária. Quantos trabalhadores do "Pingo Doce", se pudessem, não emigrariam para trabalhar em supermercados holandeses?
O problema nisto tudo está assim no moralismo que o senhor Soares dos Santos derramava nas análises que fazia e continuará fazer sobre o estado do País (neste caso Portugal). Sucede, e por mim falo, que tudo aquilo que o cavalheiro dizia tresandava a hipocrisia, e da grossa, excepto para quem tivesse grandes problemas de olfacto. Além de que sei muito bem o que são e o que têm sido as elites empresariais portuguesas.
Por outro lado, nesta história, e como pode haver sempre pelo menos duas opiniões sobre um só facto, há quem garanta que os interesses da "família" Soares dos Santos só emigraram para a Holanda porque a tal foram obrigados por causa das "leis ficais estúpidas" cá do burgo. A princípio não percebi, até porque as "leis fiscais estúpidas" permitiram que os negócios da "família" Soares dos Santos não só crescessem, se consolidassem e se internacionalizassem, como permitiram que se tornasse numa das maiores fortunas do país. Mas tendo meditado um pouco mais no assunto acabei por me sentir tão descansado como desarmado nos meus argumentos. Afinal, o autor desta interpretação luminosa sobre uma questão que já está a baralhar muita gente é um jornalista bem informado, especialista em questões fiscais e que não tem nem nunca teve qualquer laço de dependência da família Soares dos Santos. Nunca deverá, por isso, ser acusado de usar de falta de objectividade e de poder vir a ser considerado uma espécie de voz do dono. Mesmo que o dono não se interesse sobre se a voz se faz ouvir ou está pura e simplesmente muda.